sábado, 21 de janeiro de 2012

Tudo aquilo que penso sobre o arroz, e me esqueci de contar

Muitos leitores desse blog, ou seja, uns 3 entre os 6 que gastam seu tempo me lendo, podem ter ficado com a impressão de que sou o inimigo número 1 do oryza sativa, cereal da família das gramíneas, popularmente chamado de arroz. Ao contrário, por mais paradoxal que possa parecer, este blog defende este alimento popular e seus produtores. A exemplo das Associações Médicas que não apoiam a abertura de novas Faculdades de Medicina! A razão das associações é que julgam que a proliferação de faculdades e médicos acabaria por desbalancear o delicado equilíbrio entre a oferta e procura de serviços médicos, levando, como sempre, ao aviltamento dos seus valores de mercado. Com isto, seria também aviltada a qualidade da formação de novos médicos o que levaria a um cíclo vicioso: médicos ruins, em grande número, sendo mal pagos pelo mercado, o que não estimularia aos melhores estudantes a procura desta importante profissão, o que comprometeria a qualidade dos formandos, etc...
No caso do arroz o mesmo pode acontecer. Já existe um desbalanço entre a oferta e a procura. Como este blog já comentou, na inserção
Os (maus) investimentos públicos e os gargalos da economia do Rio Grande do Sul "a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), apresentada pelo IBGE (2010), mostra uma redução significativa do consumo de arroz por habitante no Brasil: de cerca de 30 kg/ano em 1985, para 24,6 k/ano em 2003 e, finalmente, 14,6 kg/ano 2009. Ou seja, uma redução de metade do consumo nos últimos 18 anos, e de cerca de 40% nos últimos 6 anos, evidenciando uma intensificação do processo". Por isto, o aumento da produção de arroz, ante a redução inevitável da demanda, iria aviltar ainda mais o seu preço, já insuficiente para recuperar os custos de produção. O que se verifica na Metade Sul, onde quase 10% da área de arroz não foi plantada este ano de 2011, e muitos produtores optaram por usar as áreas para pecuária e outras culturas, é consequência natural de um mercado pressionado pela oferta.
Por isto, investimentos em barragens visando o aumento da área irrigada de arroz, por maior que seja o paradoxo, prejudica a atividade em vez de ajudá-la. As associações de arrozeiros e os sindicatos rurais da região deveriam pleitear aos governos recursos para diversificar a economia regional e não para aprofundar as grandes assimetrias já existentes.
No entanto, o arroz já teve, e ainda tem, um papel importante na economia regional. Foi ele responsável pela diversificação da atividade, no início do século passado, que era centrada unicamente na pecuária. E hoje, o PIB regional certamente deve destacar esta atividade como a mais relevante de muitos de seus municípios, gerando renda e emprego. 
Entretanto, nem o arroz nem a pecuária têm conseguido retirar a região da estagnação econômica. Ao contrário da Metade Norte, em que a agricultura e a agroindústria alavancaram a economia, falta à Metade Sul investimentos em infraestrutura, especialmente transporte, e atração de indústrias, para modernizar a sua economia. Não será desperdiçando os recursos tão necessários para a região, em investimentos que em nada contribuem para modernizá-la, como o das barragens do Jaguari e do Taquarembó, que a economia Metade Sul será resgatada do quadro relativo de estagnação. 
Urge às lideranças regionais pressionarem os Governos Estadual e Federal no sentido de promoverem um Plano Integrado de Desenvolvimento Sustentável da Metade Sul do RS, que promova um diagnóstico detalhado e proponha linhas racionais e consequentes de investimentos. As ações emergenciais e pontuais, que sempre ocorrem na ocorrência de secas, pela falta de uma visão sistêmica, terão caráter meramente paliativo. A região necessita e tem direito a projetos realmente estruturantes do seu futuro!

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